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A mentalidade revolucionária do protestantismo

Diversas vezes vemos os protestantes se colocarem como cristãos perseguidos pelo mundo moderno, e assim igualam suas seitas a Igreja Católica, que é perseguida desde a crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas isto é uma meia-verdade: apesar de serem realmente perseguidos hoje, não o são, nem de longe, atacados com a força e o ódio com que são atacados os católicos, nem suas seitas são censuradas e combatidas há tantos séculos como é a Igreja Católica.


Os protestantes, na verdade, foram os primeiros revolucionários, os primeiros que perseguiram e combateram a Igreja, e portanto, foram os primeiros a se rebelarem contra a ordem de Deus. Várias revoluções posteriores vieram na esteira do protestantismo. Isso é histórico, não há como negar, por mais que se tente. Esta mentalidade protestante, de rebelião contra a Igreja, impulsionou a criação dos governos laicos, desvinculados da autoridade eclesiástica, e resultou mais tarde na dominação do homem secular e iníquo sobre as nações.


Alguns protestantes mais honestos admitem que a reforma foi de fato um movimento revolucionário inaugurador das revoluções modernas. A ideologia iluminista, por exemplo, herdou do protestantismo sua mentalidade anticlerical e antimonárquica. A liberdade religiosa pretendida pelos protestantes em seus apelos pela “livre interpretação” das Escrituras ― reivindicação que, não coincidentemente, surgiu com a criação da imprensa e a possibilidade inédita do acesso irrestrito da Bíblia, ― veio a se transformar na liberdade religiosa laica dos liberais, e posteriormente no laicismo dos socialistas. Porém, ao mesmo tempo, estes protestantes que por algum súbito de honestidade admitem a fonte revolucionária de suas doutrinas paternas, fazem algumas manobras para contornar este problema moral, se dizendo “mais reformados que os reformados”, ou seja, renegam que sejam parte deste movimento. Mas, infelizmente, estão apenas iludindo-se a si mesmos. Estas manobras são nada mais que o manjado artifício dos protestantes em geral: quando se defrontam com um problema insolúvel, se refugiam em uma nova tese, ainda desconhecida e não-refutada, e quando os problemas vêm à tona e são finalmente refutados, eles repetem o movimento e se refugiam em novas teses, e assim sucessivamente. Agindo assim, eles confundem (muitas vezes propositalmente), o certo com o “ainda não-errado”. Esta prática, no aspecto íntimo da moralidade protestante, é uma auto-enganação histérica, uma vez que o sujeito se livra de um problema moral repetindo para si mesmo: “este problema não é meu, nem da minha igreja; nós não somos revolucionários, etc.”, ou “este protestantismo liberal, maçom, judaizante, herético, etc., não é perfeitamente cristão, porque não são como nós, da igreja tal”, ou ainda, no caso dos “desigrejados”, pensam consigo mesmo: “eles [os protestantes desvirtuados] não foram suficientemente iluminados pelo Espírito Santo no entendimento da Bíblia como eu fui”.


Se notarmos bem, esta psicologia é muito parecida à psicologia histérica (ou psicopática) dos comunistas: sempre que apresentamos a eles as misérias e barbáries resultantes das fracassadas tentativas de se implantar o comunismo teórico, eles imediatamente se refugiam na ilusão de que “isto ainda não foi o comunismo como foi teorizado”, “mas eu, que estudei o marxismo a fundo, conheço a fórmula ideal”. O paralelo entre protestantes e comunistas é quase exato. Mal percebem estes “reformados dos reformados” que sua lógica interna é tão revolucionária quanto a de Lutero e Calvino, que por sua vez é similar à lógica revolucionária dos bolcheviques. Porém, assim como os comunistas sempre falharão ao tentarem criar um reino sem Deus, os protestantes sempre falharão em criar suas “igrejas” sem a Madre Igreja, una, santa, católica, apostólica e romana. E o resultado visível e irrefutável destas falhas são as incontáveis seitas que se criam dia após dia, contradizentes entre si, cada uma alegando ter a verdade universal extraída da Bíblia, e reclamando sobre si a autoridade da iluminação do Espírito Santo. Mal veem que assim blasfemam, pois o Espírito Santo não pode se contradizer. De reforma em reforma, caminham rumo ao inferno. Não enxergam que a única solução é retornar para casa, como fez o filho pródigo.


Sendo todos eles revolucionários, os protestantes ― ainda que se admita que mantenham muitas verdades das Escrituras ― são perseguidos pelo mundo moderno pela própria lógica interna das revoluções: a revolução atual sempre persegue a antiga ordem da revolução anterior, que já não é mais revolucionária o suficiente. Por isso o destino do protestantismo é ser engolido pelos seus próprios filhos, pois o diabo nunca estará satisfeito. Ele é a revolução por essência: ele representa a rebelião contra toda a ordem divina.


As coisas de Deus são evolutivas, não no sentido evolucionista moderno, darwinista, mas no sentido de que Deus age no mundo de forma paciente, amorosa e construtiva. Já as coisas do diabo são revolucionárias, pois sua ação no mundo é convulsiva, odiosa e destrutiva.

A história da Igreja Católica é exatamente uma história evolutiva: uma Igreja que sofreu pacientemente nas catacumbas, que foi construída sobre o martírio dos primeiros cristãos que deram sua vida pela Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, e que derrotou a tirania dos imperadores romanos através desta Fé inabalável e da inquebrantável tradição apostólica que guardou a sete chaves. Esta Igreja se espalhou por todo o império pavimentada pelo sangue dos apóstolos e todos os mártires, pela força das suas palavras e testemunhos. Esta força jamais poderia ser vencida pela força bruta, e isto é o que levou à rendição e conversão os imperadores e reis ao longo dos séculos.


Já a história da Reforma Protestante é, pelo contrário, uma história revolucionária: homens que, muito longe de serem perfeitos e santos, acusavam soberbamente os erros dos homens da Igreja ― ao contrário, por exemplo, de São Francisco, que com sua caridade e extrema humildade, reformou a Igreja sem se rebelar contra Ela, amando-a com todos os defeitos dos homens que a constituem. Estes soberbos “reformadores” moveram politicamente a separação dos estados e da Igreja, criando igrejas nacionais não mais sob o domínio do Papa, sucessor do chefe dos apóstolos, a quem Jesus Cristo confiou as chaves do Reino dos Céus e fé infalível, mas sob o domínio de governantes seculares, movidos por interesses próprios. Além disso, recusaram odiosamente e rebeldemente várias verdades imutáveis estabelecidas pela Igreja da qual eles mesmo faziam parte, e provocaram uma convulsão social que repentinamente dividiu os cristãos, assim como Lúcifer, se rebelando contra Deus, dividiu os anjos do Céu. Em poucos anos de revolução, houveram pilhagens e roubos dos bens da Igreja; o número de mortes, num curto espaço de tempo, foi muito maior do que estes reformadores acusam falsamente a Igreja de ter causado pela Inquisição em séculos de história. A reforma protestante é uma história de ódio, mentiras, divisões e mortes.

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